segunda-feira, 27 de julho de 2009

Subversa recomenda...

Velório à brasileira – Peça teatral em cartaz no “Centro de Artes da UFF” até o dia 02 de agosto (domingo). Caro leitor, aproveite o último final de semana para comprovar e dar deliciosas risadas com essa comédia à moda brasileira.

Mesmo não sendo um gênero literário muito apreciado pelos teóricos clássicos, a comédia, em nossa sociedade, desempenha fundamental papel, ou seja, o de entreter e divertir homens e mulheres atormentados e oprimidos pelas problemáticas da vida urbana e pós-moderna.
Carnavalizar momentos cotidianos permite que os indivíduos escapem de seus conflitos existenciais e sociais rotineiros, e vivam intensamente os poucos instantes de alegria e comicidade como se fossem únicos e irrecuperáveis.
E é contrariando todo o exposto por Aristóteles em sua emblemática obra de teoria literária, Arte Poética, que nós da Subversa reconhecemos a relevância/importância dessa modalidade teatral, como também a magnificência de uma comédia de texto coeso, dinâmico, interativo, qualitativo e, acima de tudo, merecedor de intermináveis aplausos.

Para os mais curiosos, uma concisa descrição do enredo:

No velório de um funcionário de repartição pública, descobre-se que o falecido acaba de ganhar na loteria. Com isso, todas as pessoas com as quais conviveu durante sua vida se mostram mais interessadas em tirar proveito da situação a velar o amigo. O problema é que o bilhete sumiu.
Começa, então, a maratona pra saber quem fica com o prêmio!
Uma viúva escandalosa, uma vizinha fofoqueira, um espirituoso contraditório, uma irmã com suspeitas intenções, um falso colega, um bêbado inconveniente, um elemento surpresa e uma boa dose de ganância formam o hilário retrato sobre a fragilidade de valores éticos e morais diante da possibilidade de ficar rico.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Uma breve definição do gênero textual: Crônica

Mas o que é crônica?
Este tipo textual lido todos os dias ou semanalmente em jornais e revistas por leitores, que muitas das vezes, nem sabem distingui-los dos outros textos e notícias veiculadas nestes meios de comunicação, porém fazem-nos refletir sobre os acontecimentos cotidianos através do entretenimento e do cômico, é denominado Crônica.
A palavra crônica origina-se dos vocábulos grego, Khrónos, e do latino, Chronica, que significam tempo, por isso, uma das características principais deste gênero textual é o seu caráter contemporâneo, visto que analisa e relata por meio de um olhar atento e, fazendo uso de uma linguagem artística e descontraída os fatos do dia-a-dia.
As pessoas que escrevem crônicas são chamadas de cronistas e possuem a função de escrever textos que abordem assuntos importantes de forma descontraída e casual, sem ser descompromissado.
A história da crônica no Brasil se confunde com a própria trajetória do jornalismo contemporâneo. Vinculada ao entretenimento, de um modo geral, ela começou a consolidar-se no país em meados do século XIX e, desde então, tornou-se um gênero quase obrigatório nos jornais brasileiros. Ligado em sua gênese ao folhetim, isto é, o espaço plural que abrigava uma série de textos voltados ao entretenimento, o termo crônica, durante este período, esteve associado a escritos sobre os mais variados assuntos, da política ao teatro, dos eventos sociais aristocráticos aos esportivos, dos acontecimentos do dia-a-dia ao universo íntimo de cada autor. Hoje o gênero textual crônica está cada vez mais ligado ao cunho jornalístico, devido ao seu ritmo rápido e sua efemeridade, onde o texto flui sem subterfúgios e de acordo com o gosto ágil exigido pelos ledores dos periódicos em circulação.

Delírio nº II, ou Carta aos Suicidas

Amável desertor,

Já viveu a vida... E hoje o que tem é o reverso da glória. Já bebeu da água suja e jantou banquetes fétidos em companhia indesejada. Passou por poucas e boas num sigilo conferido somente a semideuses... Prefiro não dizer tanto, pois talvez tenha razão. Quem sou eu para julgar estes casos da mais grave penúria humana? Afinal, quem sente no peito as amarguras de um amor irrealizado, o silêncio de quem foi para sempre sem deixar recado, o desespero de tentar com a maior força e não conseguir, sente não haver dor maior no mundo que se compare a sua! Embora conheça a indiferença que lhe aguarda... Mas indiferença que vem de fora; afinal, o mundo que passa por seus olhos, não é o mesmo mundo que seus olhos perpassam.
Diria: “Pobre minuto...” Quando busca a alegria, tem o dissabor; quer a fama, alcança o anonimato; implora por amor, recebe o desprezo, no entanto ainda busca cegamente alimentar o ego no futuro e chama isto de sonho. Mas bem sabe, desertor, que não há fórmulas para a felicidade. Se é que ela existe, ou não passa dessas verdades que não são mais do que mentiras sem porquê. Ainda havendo tempo, apenas aconselho-lhe como bom companheiro a quem não se negaria a complacência, ou ao menos à sua frente portar-se-ia deste modo se apenas preza as cordialidades formais.
Tenho observado uns deste seu tipo e por mais que lhe possa parecer absurdo, encontrei matéria suficientemente interessante para lhe escrever, ou lhe alertar, como melhor parecer. O ser humano é assim: quando menos se espera, ele tem algo para lhe ensinar. È uma surpresa mesmo! O que não surpreende, desertor, é que, nesta sua classe, as coisas são mais difíceis de serem aprendidas...
Sem mais demora, digo que o que não entende, desertor, é que não há libertação com a morte. Há apenas fim. Fim do que há e início de coisa nenhuma. Não será nem mais nem menos feliz; nem melhor nem pior... O conceito de liberdade, mesmo, não permite tal uso, neste caso; pois quem se livra de algo, livra-se para tornar-se suscetível a outras milhares de oportunidades! E sinto informar-lhe, não é isto o constatado. Melhor empregado seria desistência, abandono, deserção...
Mas logo eu, que não costumo convencer-me facilmente, quanto mais me deixar levar por estas veleidades! Logo eu, que outrora fiz da existência um flagelo, fui aturdido por uma certeza perturbadora. Para você, desertor, que diz haver apenas uma certeza no mundo, sendo esta a morte, devo lhe confessar que, enfim, reconheço o verso da história e acho que também seria interessante compartilhar este assunto com você. A lógica é simples, fruto de inquirições pequenas, senão vulgares: como pode ser a morte a única certeza, sendo que não há morte sem vida? Diria, então, que não há uma única certeza no mundo, mas ao menos duas! E certeza ainda maior e mais convincente é a vida, pois a comprovamos a todo segundo, mesmo sem querer.
Perdoe-me se pareço tratar de assuntos banais, em horas derradeiras; só sinto que deste divagar poderia tirar proveito maior, desertor. Afinal, o que tanto busca este mesmo homem? O que há demais que a vida somente não lhe satisfaz? São, no entanto, as certezas do mundo, essencialmente, oposições uma de outra e sendo (de duas, uma) o que lhe restou, é natural que as entenda. É seu o mundo. Como uma questão de economia, sugere-se o aproveitamento do que lhe foi incumbido.
Veja quanta cor traz o céu de hoje, desertor! Esqueça o salto pela janela e ouça o pássaro na sacada. Sinta-se a si mesmo, que ninguém, além de você mesmo, de você esqueceu. Ah, a vida, desertor... Todo dia é uma vida que pode ser.
Os mesmos campos que lhe enlaçam com a paz de flores calmas, nascerão sob uma aurora de chumbo; a mesma Igreja que lhe prega a palavra de Deus, faz-lhe reconhecer a retórica do Diabo; no mesmo palco onde canta a miséria, passa o carnaval; o mesmo tempo que lhe consome, é a sua condição inexorável de viver. E no final das contas, ainda haverá vez, desertor, para o mais pessimista dizer, em seu leito de morte, que a vida é boa. A vida é boa...